sábado, 7 de agosto de 2010

Entrevista com Hagio Moto

Posted by Shoujo Desu | sábado, 7 de agosto de 2010 | Category: , |


A seguir temos uma entrevistas (ANN) com a autora Hagio Moto. Espero que gostem!

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Gostaria de começar de uma forma pouco usual. Há uma coisa que eu gostaria de mostrar para você – é uma das minhas ilustrações favoritas de sua autoria. Você se lembra dela?


Ah~! Ela é de… De que livro é?

CLAMP no Kiseki.

Sim, sim. Está certo. Eu desenhei esta ilustração para a CLAMP.

Esta é a primeira vez que eu vejo isso. (Matt Thorn)

De que trabalho da CLAMP era… Clover.

Eu fico imaginando se você pode explicar qual era o seu conceito por trás dessa ilustração.

Esta é uma história da CLAMP, Clover, e essa é a minha leitura das personagens. É uma imagem das personagens no palco – da forma que eu gostaria de vê-las atuando. As roupas são inspiradas no Teatro Takarazuka.

Oh, Takarazuka!

É um show muito impressionante, não sei se você conhece...

Sim, eu via o espetáculo de Ribon no Kishi [A Princesa e o Cavaleiro].

Ah, então você conhece!

Então, para não fugir do assunto: você representa os primórdios da revolução no [shoujo] mangá, enquanto CLAMP representa, por assim dizer, a geração moderna do mangá. Qual você acha que é a grande diferença em como o mangá mudou desde que você começou sua carreira?

Eu cresci lendo mangás quando estava no primário, e a maioria dos artistas que criavam shoujo mangá eram na verdade homens. Havia também uma certa quantidade de ficção científica nos shoujo mangá da época. Quando eu leio os trabalhos da CLAMP, eles me lembram da emoção que era ler shoujo mangá de ficção científica quando eu era criança – a pesar, das histórias da CLAMP serem muito mais sofisticadas e complexas que aquelas que eu costumava ler quando era pequena.

Há muitos fãs nesta convenção que não devem nem saber quem você é. O que você diria para esses leitores para convencê-los a ler os seus trabalhos?

Como eu poderia convencê-los a… hmm… o mainstream na America é basicamente o quadrinho de herói, mas eu gostaria de fazer os leitores americanos compreenderem que podem existir muitos tipos de histórias. Você pode usar diálogo e imagens para desenvolver todo o estilo de histórias – a mesma mídia, mas diferentes tipos de conteúdo.

Você está atualizada em relação ao shoujo mangá atual, e qual seriam os seus favoritos? O que você recomendaria?

Meu favorito é Ōoku de Fumi Yoshinaga. E, também, Nodame Cantabile de Tomoko Ninomiya.

Oh, Nodame Cantabile! Eu toco piano—

Eu, também. (Matt Thorn)

Há também uma nova autora —Akiko Higashimura, que está fazendo uma história chamada Kuragehime [Jellyfish Princess]. Ela venceu o Kodansha manga award deste ano.

Quais são os grandes desafios enfrentados hoje pelos mangá-kas, e como você acha que eles podem superá-los?

Um dos problemas é que as opções de entretenimento se ampliaram tremendamente – computadores, vídeo games, e etc. No passado, mansa era um meio fundamental de diversão para as crianças, mas hoje em dia eles não ocupam uma posição importante como antes. Além disso, há menos crianças – a população está encolhendo. Assim, de agora em diante, o maior mercado será provavelmente a China. [risos]

E com sorte, a América, também.

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Muitos dos seus mangás são recheados de temas de ficção científica, e hoje em dia FC não é tão comum quanto costumava ser. Os shoujo atuais são freqüentemente sobre o cotidiano, ou vida escolar – por que você acha que isso mudou ao longo dos anos?

Em qualquer geração, há somente poucos autores que podem trabalhar bem com ficção científica. O grande desafio em se trabalhar com ficção científica é que, como não é baseado na realidade... para conseguir atrair os leitores, você precisa ter criatividade suficiente para construir uma história atrativa. Os leitores também tendem a preferir histórias que estão próximas da sua vida normal, do seu dia-a-dia. Entretanto, há várias artistas que estão fazendo boa ficção científica, como a CLAMP. Outra boa mangá-ka de ficção científica é Reiko Shimizu, que fez duas obras longas como Moon Child e Kaguya Hime. Recentemente, ela está trabalhando em uma série chamada Himitsu - Top Secret. É uma história sobre uma organização que examina os cérebros de pessoas mortas para descobrir o que elas viveram, tudo o que fizeram. Porque seus cérebros estão cheios de todo o tipo de segredos. [risos]

Isso parece bem interessante.
Vamos falar do seu processo de criação. Quando você começou, que tipo de ferramentas usava como canetas, papel e outros equipamentos?

Quando eu comecei a desenhar mangá... hmm. Bem, hoje em dia você pode conseguir papel B4 que é pré-impresso especificamente para mangá. Mas quando eu comecei, não se vendia “papel mangá” em tamanho B4. Então, você tinha que comprar esta grande folha, tipo 1X1 metro, e cortá-la você mesma.

Isso deve ter sido muito desafiador para você.

O único lugar onde se podia comprar grandes folhas de papel era em grandes cidades.

E que tipo de canetas e penas você usava? Elas eram todas diferente do que nós temos hoje?

Eu tenho usado uma G-pen [uma caneta com um G na ponta, usada para fazer linhas de diferentes espessuras] e uma Maru-Pen [uma caneta de ponta arredondada para linhas finas]. Foi o que eu comecei usando e não mudei até hoje. Uma das grandes mudanças, entretanto, é que eu costumava preencher os espaços pretos com um pincel e tinta indiana (*India ink*), mas hoje é mais fácil usas um cockpit—

Copic? (Matt Thorn)

[risos] Oh, certo! Copic [marcadores].

Você já tentou usas ferramentas digitais, como computadores ou um tablet?

Atualmente eu estou praticando, mas não sou muito boa ainda. Eu fiz algumas colorizações no computador, mas eu somente usei um tablet muito recentemente. Eu estou tendo muita dificuldade em conseguir o tipo certo de linha.

Acontece comigo, também, e muito diferente de fazer usando papel.

Você também desenha? (Matt Thorn)

Um pouco.

[Usar tablet] é difícil, não é?

Sim. Olhando para o estilo de arte do modern shoujo mangá, qual seria a grande diferença – de uma perspectiva visual – entre o estilo de hoje e o que você fazia no passado?

A proporção das personagens. Quando eu comecei, era comum que a cabeça fosse muito maior do que ela deveria ser em prorção ao corpo. Talvez seja porque o japonês tem cabeças grandes. [risos] Hoje, as cabeças são muito menores e os corpos mais longos e magros.

Você acha que isso reflete uma mudança nos padrões ideais de beleza entre os japoneses?

Bem… no passado, quando eu era jovem, shoujo mangá era leitura voltada somente para meninas pequenas, então era esperado que as persoangens parecessem com menininhas, o que justifica os corpos pequenos e comparação com as cabeças. Conforme a idade das leitoras foi crescendo, de meninas de primários para ginasiais para colegiais e mesmo universitárias, as leitoras passaram a preferir personagens mais próximas do seu próprio corpo.


Olhando o seu trabalho – eu li A Drunken Dream, a sua coleção de histórias curtas – eu percebi que havia muita morte. Ou as personagens morrem na história, ou elas já estão mortas. O que na morte interessa para você?

Desde quando eu era criança, eu tenho refletido sobre o fato de todos os humanos eventualmente morrerem. Particularmente quando eu estava no ginásio, hoje em dia em me pego pensando: aqui estou eu viva, mas por tudo que sei eu posso ter um ataque cardíaco hoje a noite e estar morta amanhã. [risos] Quando estava crescendo, era difícil imaginar como seria a minha própria morte. Então, enquanto lia o trabalho de outras pessoas, eu me tornei interessada em como as pessoas em volta de alguém que morre reagiam ao fato.

Você acha que a morte é algo do que as pessoas devem ter medo? Que tipo de percepção devemos ter desse fato?

A morte súbita é difícil de aceitar, mas quando você morre, é em ultima instância algo decidido por Deus. Não há nada a fazer a respeito – você tem que aceitar. Há essa história da CLAMP sobre uma cidade onde todos vivem para sempre, e o que acontece é, porque todos vivem para sempre, nenhuma criança nasce. Eu acho que o cérebro humano é programado para que uma vida de 100 anos possa ser considerada satisfatória.

Percebo! Este é um ponto de vista bem interessante.
Na sua coleção A Drunken Dream, como você escolheu as histórias?

Matt, por favor explique como você escolheu as histórias. [risos]

Fui eu que escolhi. Eu escolhi usando critérios – realmente, é bem interessante, eu acho – você conhece o mixi, a rede social japonesa da internet? Há uma comunidade de Hagio lá, feita por fãs. Eu a visitei e comecei uma pesquisa, dizendo, “Se você tivesse um volume de 200-300 páginas de histórias curtas, com menos de 50 páginas cada, que histórias você escolheria para apresentar aos leitores de língua inglesa o trabalho de Hagio Moto?” Eu obtive todo o tipo de resposta, mas alguns títulos apareciam com freqüência, então – combinado com as minhas próprias idéias do que é representativo no trabalho dela – e por conta dos meus próprios gostos, também, foi como... [Matt Thorn]

Entendo, este foi o processo de seleção?

Certo, então, depois que tudo estava decidido e o livro foi anunciado, eu confessei na comunidade que a pesquisa era de verdade, e não somente um experimento. [Matt Thorn]

Então você tem, pela primeira vez na América, uma coleção com suas histórias curtas. Se nós pudéssemos trazer uma das suas séries longas para a América, qual você escolheria?

Isso… bem, é difícil, mas se ficasse sob a responsabilidade do Matt escolher seria O Coração de Thomas.

Recentemente tem havido muita controvérsia sobre scanlations, onde as pessoas fazem scans de mangá, traduzem para o inglês, e colocam online onde qualquer um pode ler sem pagar por eles. Qual a sua opinião sobre a questão, e o que você sugeriria como solução?

Eu acho que a melhor coisa para as editoras é encontrar essas pessoas, e exigir direitos autorais!

Como você se sentiria se o seu trabalho estivesse disponível digitalmente, de tal forma que leitores ao redor do mundo pudessem ter acesso a eles?

Eu acho que seria ótimo, e eu desejo que eu pudesse ler todos os quadrinhos do mundo digitalmente, também, porque nem sempre é fácil comprar o livro físico.

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